Duas promotoras imobiliárias compram Fábrica do Inglês para reabrir Museu da Cortiça e criar hotel de charme
As empresas Antrix e Carvoeiro Branco, promotoras imobiliárias, compraram a Fábrica do Inglês, em Silves, onde preveem construir um hotel «de charme», mas também reabrir o emblemático Museu da Cortiça.
O anúncio foi feito esta quarta-feira, 3 de Setembro, num comunicado enviado à imprensa por ambas as empresas.
Segundo dizem, o «futuro da Fábrica do Inglês passará pela valorização da sua vertente cultural e da memória industrial que lhe deu origem, com destaque para a reabertura de um espaço aberto à comunidade, que volte a colocar a Fábrica no coração da vida cultural da cidade».
O ponto de partida, garantem, «será a reabertura do Museu da Cortiça, distinguido em 2001 como o melhor museu industrial da Europa, ano em que recebeu mais de 100 mil visitantes», mas que fechou em 2009.
O projeto contempla ainda a preservação e reabilitação dos edifícios históricos que compõem o complexo, com destaque para o icónico chalet do século XIX, «que será cuidadosamente recuperado e continuará a acolher uma casa de chá».
Está também prevista a instalação dos futuros escritórios da Antrix e da Carvoeiro Branco no interior de um dos edifícios históricos reabilitados.
A criação de uma unidade hoteleira de charme completará o projeto.
Para Erik de Vlieger, diretor executivo da Carvoeiro Branco, a «Fábrica do Inglês é um marco incontornável da memória coletiva de Silves. O nosso objetivo é preservar a sua identidade e devolver-lhe vida com um novo propósito que valorize o território e respeite a sua história».
«Orgulhamo-nos de estar em posição de reativar um espaço tão relevante para a cidade e para o Algarve», acrescenta.
A unidade industrial conhecida por Fábrica do Inglês foi construída pela sociedade que incluía a empresa Avern, Sons & Barris e por um empresário corticeiro de Silves, Gregório Nunes Mascarenhas, em 1893.
Gregório Mascarenhas fora presidente da Câmara Municipal de Silves e diversas iniciativas culturais e edifícios públicos da cidade tiveram o seu patrocínio pessoal.
A partir de 1938, quando um terço da fábrica foi vendido à sociedade londrina Henry Bucknall & Sons, o imóvel teve diversos proprietários, portugueses e ingleses.
De 1962 até 1995, quando a unidade deixou de laborar, pertenceu a José Alexandre Estrelo e sua irmão Ana Cristina Estrelo, filhos de um empregado da corticeira.
Em 1998, a Sociedade Fábrica do Inglês, propriedade do Grupo Alicoop/Alisuper, adquire a propriedade e o seu recheio, e aí instala um parque temático, restaurantes e museu.
O conjunto da fábrica ocupa um quarteirão e os antigos edifícios fabris, térreos, desenvolvem-se em torno de um pátio central, onde existe um jardim e um pequeno chalet com planta em cruz.
As fachadas exteriores são cegas na quase totalidade da sua extensão, e rasgadas a oeste por três portões de ferro.
As obras de reabilitação do conjunto, que decorreram entre 1998 e 1999, permitiram a instalação do Museu da Cortiça, dirigido por Manuel Castelo Ramos (já falecido), que em 2001 foi premiado pelo Fórum Museológico Europeu com o Prémio Micheletti para o Melhor Museu Industrial da Europa.
O Museu da Cortiça está fechado desde 2009, mais ou menos na mesma altura em que encerrou o complexo da Fábrica do Inglês, que pertencia ao Grupo Alicoop/Alisuper, entretanto falido.
A Fábrica do Inglês foi comprada em Maio de 2014, em hasta pública, pela Caixa Geral de Depósitos, maior credora da empresa Fábrica do Inglês Gestão de Empresas Imobiliárias e Turísticas, no âmbito de cuja insolvência decorreu o leilão.
O espólio do Museu foi comprado pelo Grupo Nogueira, que entretanto tinha comprado parte dos supermercados da antiga Alicoop, desrespeitando o desejo expresso pela Câmara de Silves de adquirir esse espólio. Foi, entretanto, classificado como conjunto de bens móveis de interesse municipal, decisão publicada em 2024 em Diário da República.